segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Crônica | Transporte público

Mais um dia de não transporte. Um rosto despertou-me atenção. Os olhos cansados refletiam os anos de labuta, quase me rendi- os olhos são a janela da alma-, mas, que seria do semblante? Das sobrancelhas caídas, a pele que denunciava o quantos tantos anos, quantos deles ignóbeis? Ou a pergunta séria seria quais deles? Negou o assento, escolheu não se render à mera classificação etária, talvez a luta era com Chronos, pareceu ser com a inércia. Eu quis perguntar, talvez só um dia, ou uma época, outra era. Permaneci em silêncio, não quis atrapalhar (deveria?). A senhora se foi, a (e)história também.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Youtube | Video Piloto

E ai pessoal, criamos o vlog e ja tem o primeiro video que é um episódio piloto. Acessem lá!


sábado, 13 de dezembro de 2014

Resenha | Extraordinário - R. J. Palácio


“Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida...”
(August Pullman, protagonista de “wonder”)

Escrito em primeira pessoa e num ritmo narrativo bastante envolvente, Extraordinário, traz de forma bastante descontraída, sem deixar de ser séria, a temática da aceitação como diferente e da transição da fase infantil à adolescente ou adulta.

A narrativa se dá em North River Heights, Manhattan, onde mora o protagonista de dez anos de idade August Pullman, juntamente com seus pais Isabel e Nate, e sua irmã mais velha Via. August que dá início à narrativa, nasceu com uma síndrome genética que gerou uma deformidade facial extremamente grave, o que fazia com que Auggie vivesse às margens do mundo que não sabia lidar com ele. 

Então, seus pais – que eram extremamente protetores – , decidiram que estava na hora de Auggie dar um passo além e começar a frequentar a escola, o que não foi bem recebido pelo garoto. Enfim, August resolve embarcar nessa aventura escolar que promete muitas surpresas e muito mais desafios.

O leitor acompanha toda a odisseia do protagonista através de sua própria ótica. O fluxo de consciência do personagem, que, apesar de não ser necessariamente comp
lexo, é bastante interessante, o que faz com que crie-se uma simpatia e amor pelo Auggie, que é esse garoto externamente diferente, mas extraordinariamente envolvente.

Um fator curioso sobre a perspectiva narrativa é que, quando chega-se ao final de algumas das partes do livro, muda-se o personagem que narra a estória, então é possível acompanhar as experiências de cada um dos personagens, fazendo também, com que o leitor tenha uma certa onisciência narrativa.


Divertido, polêmico, atual, Extraordinário soluciona de maneira leve e bastante competente, este caso de rejeição por diferença que ainda, claro que infelizmente, é tão recorrente na atual conjuntura social.  

sábado, 6 de dezembro de 2014

E agora José?

Sim, resolvi começar o blog. Nada seria mais pertinente ao primeiro texto do que falar sobre a criação. Este projeto, que começou a ser gerado agora, já era idealizado há dois ou três anos, antes de que eu começasse a estudar literatura ou que ela se tornasse, de certa maneira, meu objeto de trabalho e estudo. O fato é que existem ad infinitum possibilidades e perspectivas sobre o que é literatura e qual sua função dentro das esferas sociais e mesmo ao indivíduo subjetivado.  De Horácio aos Pós-modernos os assuntos e abordagens são inesgotáveis – e que bom que o são. Então a pergunta que essencialmente me cabe a responder a você leitor (por que a mim já foi respondida): De que vale alguém mais falar de sua perspectiva?
Indaguei-me por muito tempo. Não sei se tempo demais. Perceba, não estou, de alguma maneira, tentando justificar minha paixonite literária, ou dar algum tipo de satisfação, mesmo que assim o faça. Talvez eu só esteja escrevendo o que foi necessário ser respondido a mim enquanto abstraía-me na busca de uma justificativa que satisfizesse o desejo de escrever e falar na internet sobre literatura. Vou me valer (para você, assim como o fiz para mim) de uma citação de um teórico literário que tenho como referência, Octávio Paz: “Escrevemos para ser o que somos ou para ser aquilo que não somos. Em um ou em outro caso, nos buscamos a nós mesmos. E se temos a sorte de encontrar-nos – sinal de criação – descobriremos que somos desconhecidos.” O fato é que, na minha subjetividade, eu me encontro, sou aquilo que sou. Tenho minhas perspectivas, minhas experiências, minha leitura de preferência e por aí caminham as peculiaridades do Ser. Então, por que não aceitar o fato de que alguém se encontre nessa – minha – escrita. Não quero ser pretencioso ao ponto de tentar seduzir ou convencer aqueles que não são a serem ou lerem o que sou ou escrevo. Quero, de fato, que aqueles que são encontrem-se e descubram-se nessa criação.



“A grande literatura é apenas uma linguagem carregada de sentido até ao mais elevado grau possível.” – Ezra Pound